sexta-feira, janeiro 13, 2006

Gostei


Gostei da homenagem que Manuel Alegre fez a Miguel Torga na aldeia-natal do imorredouro poeta – S. Martinho de Anta . Gostei de quando o candidato Alegre o considerou seu pai espiritual e lembrou que recorria à leitura da sua poesia, sempre que, durante o exílio na Argélia, pretendia regressar a Portugal.
Gostei dessa romaria simbólica ao rude solo transmontano, lá onde a urze tece a luta da sobrevivência e o iberismo bebe da ancestralidade telúrica, longe do bulício das cidades e perto do âmago da existência humana primordial.
Gostei de pensar que poderíamos ter como presidente um homem de cultura, em vez de um tecnocrata; um homem de palavras, em vez de um homem de áridos algarismos, que mal disfarça uma vaidade serôdia e professoral.
Gostei de ver Alegre semeando a esperança no ansioso húmus lusitano.

5 comentários:

Graça disse...

Também gostei do que Alegre disse de (e na) Antero, na romaria simbólica que também fez ao solo basáltico de S. Miguel. Lembrando o papel do poeta micaelense como um dos fundadores do socialismo português, destacou-o como um exemplo de rebeldia e de esperança. Foram estas as últimas palavras que semeou nos que o ouviram. Espero que o terreno seja fértil.

Anónimo disse...

Meu Deus! Como é triste chegar ao ponto de usar nobres nomes da literatura para atrair... eu diria apenas os pobres de espírito. O que esperam vós, Mito e Graça? Viver de poesia diária? Ou que ele seja outro Antero? Juizo impõe-se.

Mito disse...

Não é fácil explicar, para quem não sabe, que a única verdade está na poesia. Tantos homens de ciência e saber acabam por reconhecê-lo! Pedimos encarecidamente à demiurga que nos apresente a sua escolha. Espero que não seja o cinismo que veio de Boliqueime...

Graça disse...

A demiurga tem todo o direito de interpretar como entender os gestos de Manuel Alegre, bem como de o divulgar, graças à liberdade de expressão pela qual o agora candidato lutou. Ele e muitos outros, naturalmente. E o estado democrático que Alegre, obviamente, defende, é aquele em que se pode homenagear os valores em que se acredita sem chocar mentalidadezinhas. Mostrar os valores que defende é o melhor cartão de visita para quem pretende representar um país, muito mais do que exibir um sorriso passado a ferro para português ver ou dar lições de moral à direita e à esquerda, ou fazer promessas requentadíssimas de renovação milagrosa da economia lusa. Esses gestos de Alegre, infelizmente, não lhe trazem votos, não são popularuchos,não são da cor da beijoca nas criancinhas e nas vendedoras de fruta. Muitos terão, com certeza, dificuldade em apreender o seu alcance, já que o habitual é politizar qualquer acto. O problema - e a maior qualidade- de Alegre é ser autêntico,algo "imperdoável" num político...

Mito disse...

Bom, parece que a minha pergunta ficou sem resposta. Eu compreendo; não é fácil alguém que queira parecer minimamente culto apoiar de cara aberta o homúnculo de Boliqueime para Presidente da República. Mais me espanta a chamada de atenção para a questão da grafia; também me confunde o facto de alguém tão tacanho poder julgar-se demiurga... só se for de um deserto de ideias. Eu sei que não podemos ser todos professores de Português, mas seria, no mínimo, exigível que, quem se baba por saber tão caro vocábulo como demiurgo - Meus Deus, o meu intelecto palpita de idolatria! -, tropeçasse em matérias tão rudimentares como uma simples conjugação verbal. "Que esperam vós"? Decerto a "ademiurga" é estrangeira e só assim se perdoarão os erros de paralaxe, quer linguísticos, quer políticos.