domingo, julho 30, 2006

As férias continuam...


Ontem, sábado, belafesta popular na praia da Arrifana: a Festa dos Pescadores! Animação musical, sardinas assada com pão alentejano e bebidas à discrição. Tudo oferecido pelos pescadores aos visitantes, que poderiam colaborar comprando a caneca comemorativa, que se enchia depois vezes sem conta com o loiro líquido. Mas o melhor de tudo, para além da confraternização: a fabulosa vista e a omnipresença do mar. Viva os pescadores da Arrifana e a costa vicentina!

terça-feira, julho 25, 2006

Sem ser do Dan Brown

Bernadette Soubirous, a vidente de Lourdes, escreveu um diário em que revelava os três segredos que a Virgem lhe confiara. O Vaticano resolve revelar o terceiro, que prevê, século e meio depois, um importante acontecimento para a semana seguinte. De entre o grande afluxo de milhões de pessoas que acorrem à cidade dos Pirenéus, acompanhamos algumas personagens de diferentes motivações: uma jornalista americana que tenta, com um furo jornalístico, assegurar o seu futuro profissional como correspondente em Paris; uma jovem e inteligente guia turística francesa que quer obter uma grande quantia de dinheiro para poder ingressar numa carreira na ONU; um grande dirigente soviético, condenado a uma doença terminal, que parte incógnito para Lourdes em busca da sua última hipótese de ter saúde e assumir os destinos da superpotência; um escritor e terrorista basco, com um plano de atentado espectacular na gruta das aparições; uma jovem e belíssima actriz italiana que cegou e crê na sua recuperação no santuário; uma inglesa "miraculada" que viu o seu sarcoma obliterado por um milagre de Lourdes e cujo marido tenta capitalizar em negócios esse fenómeno; um jovem advogado americano, vítima da mesma doença e que voa para a cidade francesa em busca de intervenção divina, na companhia da sua mulher, psicóloga clínica que o pretende demover a todo o custo e submeter-se imediatamente a uma perigosa intervenção cirúrgica, para isso, vai ter de desmascarar a que ela considera ser a fraude de Lourdes.
Ingredientes mais que suficientes para um emocionante leitura de Verão, uma narrativa conduzida magistralmente por Irving Wallace, em que fé e cepticismo se entrecruzam em jeito de contagem decrescente. O título é O Milagre.

sexta-feira, julho 21, 2006

O Estado do Debate


Ficámos sem saber por que motivo se acabou com as provas-modelo dos exames, particularmente úteis para disciplinas de programas novos; ficámos sem saber por que razão se fez orelhas moucas a todas as entidades credíveis que lançaram alertas acerca das dificuldades que advinham da coexistência de várias reformas e da aplicação de novos programas; ficámos sem saber por que carga de água se criou uma excepção para duas disciplinas apenas, em detrimento de outras, ficámos sem saber a resposta a tantas outras questões que se colocaram ontem na sessão parlamentar.
Mas ficámos a saber que não vale a pena solicitar mais debates de urgência com esta ministra da Educação, uma vez que, sejam quais forem as perguntas, as respostas serão sempre as mesmas: aquelas que a ministra rabisca previamente em casa, em jeito de conferência de imprensa. Mais uma sessão para lamentar. E tudo seria até risível, não fora este amargo de boca de saber a vida a andar para trás.

sábado, julho 15, 2006

A bicha

Um povo é capaz de mudar muito por fora.

Sentada ao volante do seu desportivo, parada numa bicha, sob o sol impiedoso, uma loura platinada mantém uma conversa lânguida ao telemóvel topo-de-gama-último-modelo, sacudindo o rabo de cavalo em “câmara lenta”, num gesto estudado. O bronzeado perfeito dos ombros contrasta com os faiscantes óculos de sol Christian-Dior-ou-coisa-que-o-valha. Uma digna descendente da Milady “aromática e normal” de Cesário Verde.

Acabou a conversa, mesmo a tempo de reiniciar a marcha, pois a bicha já permite um fluxo vagaroso. Acende um cigarro voluptuosamente, mantendo o braço esquerdo de fora, flectido em pose. Sorve o fumo lentamente e expele-o logo de seguida, prolongando esse gesto de lábios o máximo de tempo possível. A meio do cigarro, lança-o com toda a naturalidade para a estrada. Coitadinhos dos carrinhos desportivinhos descapotaveizinhos que não têm cinzeirinhos!...

Tudo isto eu observo, com olhar censor e indignado, enterrado nos estofos do meu Wolksvagen topo-de-gama, enquanto vou escarafunchando macacos do nariz.

quarta-feira, julho 12, 2006

Sempre o mar


Sempre o mar. Hoje voltei a ficar três horas na orla do espumaço, ao alcance de toda a fúria das ondas. Enfrentei a força da corrente e exultei com os salpicos violentos de sal. Enterrei-me na areia até ao joelho ao saltar dos rochedos. Ouvi a voz majestosa e tonitruante de Neptuno, oficiei ao som dos bramidos, enquanto os raios de sol poente douravam a minha auréola.
Ali me reencontrei, eu que sou de um signo Terra, mas nunca consegui viver longe do Atlântico.
Saudades do pai?

domingo, julho 02, 2006

Hoje apeteceu-me


Hoje apeteceu-me escrever um poema
Como quem olha para a vida e a descobre pela primeira vez
E se espanta por ela ter sempre ali estado apesar de nunca à nossa espera

Hoje quis escrever um poema
Como quem quer a sorte que nunca teve e nunca procurou
Mas sabe que está proibido de o fazer sem antes percorrer o caminho

Hoje sonhei que escrevera um poema
Como quem acorda e não sabe se sonhou se viveu
Ou se sequer está acordado para o poder ter sonhado

Hoje pensei escrever um poema
E quase que o escrevia…

Mito, 2 de Julho de 2006