sexta-feira, setembro 29, 2006

Nova nomenclatura linguística


A famigerada TLEBS em artigo de jornal, cuja leitura se sugere, e do qual se recolhe um excerto significativo:

"Nenhum pediatra diz a uma criança com dores de barriga: você tem uma crise gástrica moxirreica. isto é uma questão de senso-comum", considera. "No entanto, crianças de seis podem ser confrontadas com questões como: 'Explicite o valor anafórico do conector'. Que benefícios é que isso vai trazer?"

Álvaro Gomes


Para ler o artigo todo

http://dn.sapo.pt/2006/09/28/sociedade/novos_termos_gramaticais_geram_contr.html

quinta-feira, setembro 21, 2006

Quem parte


Gostaria de saudar a oportunidade da edição de um suplemento dedicado à Educação, incluído no número de hoje (21-09-06) da revista Visão, que, para além de numerosos gráficos e estatísticas, contempla um artigo de fundo de uma socióloga e uma página de lugares-comuns de uma ministra.
No entanto, torna-se necessário tecer alguns reparos. A primeira parte da revista é dedicada à apresentação de dados estatísticos e conclusões oriundas do relatório da OCDE "Education at a Glance 2006". Nesta secção, são jornalistas que comentam os dados apresentados, interpretam os respectivos gráficos e sobretudo lançam as linhas de leitura para um estudo comparativo. Invariavelmente, focam-se aspectos que tendem a culpabilizar e descredibilizar a classe docente.

As fontes dos dados, para além do referido estudo, são, na sua maioria, governamentais e não são alvo de uma análise verdadeiramente crítica e objectiva. Se não, vejamos o exemplo mais gritante:
São apresentados os números do decréscimo da população estudantil e o paradoxal aumento do número de docentes. A única resposta avançada pelo jornalista é que "a explicação, qualquer que seja, foge à lógica". Mais à frente, uma tabela que ilustra o número de alunos por turma mostra que os professores portugueses, tal como os gregos, são os que menos discentes têm: apenas dez. Explicação: também nenhuma, para além da referência aos famigerados horários-zero e, de forma implícita, o facto de os professores com mais anos de serviço terem menos horas de serviço. Sem prejuízo da importância destes factores, parece-me que se olvidam outras variáveis com grande relevância.

Como sempre, mexer em números é passível das mais diversas interpretações e manipulações. Já diz o povo: "Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou não tem engenho ou não tem arte". Se fôssemos aprofundar os processos de como se chega a estes números, ficaríamos talvez chocados com a sua falibilidade e até credibilidade. Os números estão lá. Mas como se chegou a eles?

Quando se faz jornalismo, sobretudo com o nível que deve ter uma revista como a Visão, impõe-se questionar os números e lançar hipóteses que vão para lá da primeira impressão, do tal "relance". Seria talvez também interessante ouvir outras vozes que não apenas as das cúpulas e dos intelectuais de serviço, ouvir as vozes que estão no terreno. Uma simples conversa com qualquer professor comum poderia pôr em evidência este simples facto, quase sempre escamoteado nestas análises, porque não dá jeito nenhum.Refiro-me, em concreto, à pululante existência de horários incompletos. Quantos são eles? Como se repartem? Quantos professores têm apenas 6, 8, 10 horas de serviço (ganhando proporcionalmente e cerceados de outros direitos, como o subsídio de alimentação)? De que forma esta variabilidade afecta os números referidos anteriormente: o ratio de professores / alunos e o próprio número de docentes? E como se apresenta esta variável noutros países? E que dizer da sazonalidade da colocação desses professores? Alguns trabalham 2, 3 , 4 meses ou até menos, em substituições e contratos de curta duração. De que forma podemos tomar, em Portugal, o número de professores como um indicador estável, passível de estabelecer rácios e comparações com dados de outros países?

Tem mérito a iniciativa da Visão, mas merece igualmente reparos: é necessário ouvir a outra parte. Para ter mais engenho e mais arte.

domingo, setembro 10, 2006

Rita Catita


É verdade. Admito-o. Comprei o Expresso deste fim-de-semana. Achei que comprar o "Lost in Translation" por dois euros e oitenta era uma pechincha. Mas lá acabei por trazer o papel também. Vagueando displicentemente pelas páginas da Única, revista do dito cujo, reconheço a histérica e mediática filha do Ferro Rodrigues. Divulgava ela, na sua rubriquita, um blog supostamente de "bolinha vermelha", que aliava valor literário a um certo pendor erótico. Evidentemente que retirou alguns excertos mais picantes para espicaçar o apetite pelo dito blog - o razoavelmente conhecido ana-de-amsterdam.blogspot.com -, enaltecendo a sua qualidade: "É para mim a mais recente revelação blogosférica." E lá seguiu para outras paragens, com o afã apressado de starlet televisiva. Com certeza não teve tempo para ler o post da dita Ana de 28 de Agosto, intitulado "As cabras capadas (1)" e que, com a merecida vénia, passo a citar

Ter comentários num blog é o mesmo que deixar aberta a porta da nossa casa e deixar entrar no nosso espaço, mexer nos nossos objectos, gente que vai ao teatro ver espectáculos da Teresa Guilherme, gente que lê livros da Margarida Rebelo Pinto e afins, gente que gosta da Rita Ferro Rodrigues e da Margarida Pinto Correia (...)

Obrigado, Ana!

domingo, setembro 03, 2006

Azul













Vogo devagar nas vagas mansas
A tinta azul escorre-me dos cabelos até aos ombros
E lava-me as têmporas de ilusões
Nadar é uma forma de existir como outra qualquer
Nada como um peixe nada como uma estrela nada como uma vontade

Vogo devagar nas águas ancestrais
Sobre a cabeça o sol faísca e risca o céu como um estilete
A brancura nítida do azul em explosão
Mil pequenos dedos me embalam e afagam
Nada como um peixe nada como uma certeza nada como um sonho

Mil outros corpos vogam devagar nas vagas calmas
Incandescentes como eu
Chicoteados de luz
Olhares cravados na flor azul
Bêbados de ternura
Naquele instante cego e ledo
Antes de espreitar o horror do fundo


Mito, 3 de Setembro 2006