terça-feira, abril 18, 2006

Manual de Sobrevivência


O relógio da modernidade não pára. É necessário apanhar freneticamente o comboio das novas tecnologias. A urgência da actualização é premente. Temos de acompanhar a mudança constante e estar prontos para a novidade. Deve ser por isso que o Ministério da Educação nos propõe manuais escolares válidos para seis anos.
Daqui a seis anos, não sei como vai ser o mundo, mas sei que vai ser muito diferente do de hoje. Façam um simples exercício e revejam as páginas dos jornais de há meia dúzia de anos, ou folheiem os manuais escolares do mesmo período histórico… Imagine-se os manuais de Informática ou de Geografia, por exemplo… Ou mesmo os de línguas, que normalmente fazem uso da informação dos media… Esta areia para os olhos dos Encarregados de Educação nem parece resistir a uma análise minimamente racional.
Bom, pelo menos um aspecto positivo poderia ter tal medida: pressupõe-se que os programas durariam esse mesmo tempo, o que seria um verdadeiro record nas duas últimas décadas. A ver vamos!

quarta-feira, abril 05, 2006

Um mundo a muitos tempos

Não me canso de me impressionar com a aceleração dos tempos. A velocidade com que tudo passa e novas coisas aparecem, para, logo em seguida, se esfumarem deixa-me sempre perplexo e meditabundo. Este agudizar do transitório e do efémero, eleito a suprema metáfora da nossa efectivamente fugaz passagem por esta vida, poderá ser um sinal de que algo de muito profundo está para mudar na raça humana. As novas gerações, crescidas no embalo da MTV e dos jogos de consola, têm já uma capacidade perceptiva que nos deixa a milhas... Quão ridícula lhes parecerá hoje a célebre montagem da cena da banheira de Psycho, de Hitchcock! Tudo tão lento, diriam eles...
Ao que parece, quanto mais aguda se torna a nossa percepção do imediato e da sucessão de instantâneos, mais débil se torna a nossa capacidade de retenção. Por outras palavras, estará o homem a perder a memória? Não é verdade que as funções não exercitadas se poderão extinguir ou embotar? E se os mecanismos da memória estão inter-relacionados com as emoções, não será plausível admitir que este anterremedo de Cyborg em que nos transformámos as vai substituindo gradualmente por sensações? Sim, cada vez mais vivemos sensações em vez de emoções! Estará, a prazo, a memória em risco? E, com ela, a nossa identidade? Ou estaremos, apenas, à beira dum salto antropológico?