Abro um baú de pinho
Donde retiro saudades de ti, amor d’outrora
Estendo uma toalha de linho
No chão pejado de pestanas
Que tentam fugir janela fora
Sacudo a poeira fina
Da polaroid cinza-mágoa, amor d’outrora
Dedilho memórias na neblina
Densa de dores humanas
Que cobre a parede que chora
Mudo a vela que ainda arde
No jazigo aéreo que te embala, amor d’outrora
Prometo voltar mais tarde
Longe de horas insanas
Com vagares de demora
Estarás aí?
Mito, 13-01-2005
1 comentário:
Este deve ser um "bom poema", porque sempre que o leio (ou tento ler, um "bom poema" nunca fica “lido”, suponho), vejo sentidos novos, alguns, possivelmente, que lhe quiseste dar, outros que só eu podia encontrar (e sobram outros que só o leitor x reconhecerá).
Outro indicador seguro é que não há nada que apeteça alterar, o que é dito só podia ser dito assim e só podia ser dito por quem o diz. Muito embora este “Ritual” me seja familiar (como o será a quem quer que o leia), porque há sempre um passado para visitar (ou para receber), uma polaroid “cinza-mágoa” a que sacudimos a “poeira fina” e velas para acender a esse passado morto que (re)vive connosco. E que estará sempre aqui.
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