domingo, setembro 03, 2006

Azul













Vogo devagar nas vagas mansas
A tinta azul escorre-me dos cabelos até aos ombros
E lava-me as têmporas de ilusões
Nadar é uma forma de existir como outra qualquer
Nada como um peixe nada como uma estrela nada como uma vontade

Vogo devagar nas águas ancestrais
Sobre a cabeça o sol faísca e risca o céu como um estilete
A brancura nítida do azul em explosão
Mil pequenos dedos me embalam e afagam
Nada como um peixe nada como uma certeza nada como um sonho

Mil outros corpos vogam devagar nas vagas calmas
Incandescentes como eu
Chicoteados de luz
Olhares cravados na flor azul
Bêbados de ternura
Naquele instante cego e ledo
Antes de espreitar o horror do fundo


Mito, 3 de Setembro 2006

2 comentários:

Graça disse...

É extraordinário este poema, uma metáfora leve e profunda da vida, do nosso alheamento (in)voluntário do "horror do fundo", da nossa necessidade de azul e luz.

Mito disse...

Enquanto tiver comentários destes, manter-me-ei alacremente à tona de água.