domingo, janeiro 23, 2005

Mais alto

É romaria obrigatória. Sobretudo, se houver crianças a maravilhar. Falo da costumeira viagem à serra da Estrela, em busca das neves perdidas e de vistas esplendorosas.
Neste, sábado, fui romeiro. Escolhendo um caminho menos convencional, meti rodas à estrada e serpenteei rumo à “torre”, passando por Tábua, pela malfada Comba Dão, por Mortágua (que levou a minha filhota a perguntar”Sabes o que é a Morte de Água, papá? É quando vem muita água e as pessoas ficam afogadas!”), por Oliveira do Hospital e, antes da ascensão final, pela veneranda Seia.
Desta vez, a neve resumia-se a alguns farrapos na paisagem e a faiscante espelhos de gelo nas escarpas. Paciência, da próxima vez será melhor.
No alto dos 1989 metros, fica o miserável centro comercial que sempre me provoca a náusea do atraso. À volta há sempre lixo no chão, sempre entulho no chão, sempre “restos” de obras, como “palettes” partidas e andaimes abandonados, pelo chão.
No sítio mais alto do continente, o olhar amarra-se necessariamente ao chão. E se corremos a refugiarmo-nos junto das lojas, somos assediados por untuosos vendedores que, encostados às ombreiras, nos convidam insistentemente a provar o queijo, numa repetição arrastada de cassete moribunda. Como é compreensível a vasta adesão – de cristãos e não cristãos – à fulgurante cena irada de Cristo contra os vendilhões do Templo!
Faz frio sem brilho. Resolvo-me a entrar num café-restaurante. Aí, sim, a altura a que nos encontramos é brindada em coerência: “Dá cá 75 cêntimos por um café que bebes, entre peluches e trenós de plástico!”.

Alguém tem um bilhete para o Pico?

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