sexta-feira, agosto 25, 2006

Zé Mário


Carrega a dor da utopia. Mas não se conforma no rótulo de "lírico" de esquerda. Destila o desencanto e às vezes o ressentimento por um mundo que caminha para os antípodas do seu sonho. Mas tem uma obra singularíssima e belíssimas músicas, algumas das quais se podem escutar em http://www.2020mm.com/ecards/JoseMarioBranco/. Destaco o tocante "Do que um Homem é Capaz" ou o desconcertante "O Papão do Anão". A maior parte do álbum Resistir é Vencer assume contornos de canção de combate, a dita "música de intervenção". Ouça-se a "Canção dos Despedidos":

Nós somos lixo
Já não há gente, há só lixo
Dispensável, descartável, reciclável

O artista define o seu lugar ao lado do povo, fazendo parte dele, não abdicando da sua condição.

E o tempo a passar
E eu a cantar
Eu também faço parte do lixo

É inegável a presença de alguns "tiques" muito datados e talvez uma certa ingenuidade na análise social - será tudo tão simples?
Porém, não esqueço a coerência, a verticalidade e a sensibilidade do autor que um dia me pôs a chorar com uma interpretação da sua canção "Eu vim de longe". Somos todos companheiros nesta caminhada onde "Há que humanizar a humanidade" (Canção dos despedidos).

1 comentário:

Graça disse...

Fazem falta mais vozes que saibam cantar o que se cala; e mais olhares desassombrados sobre este "país em inho", como diria o outro. Obrigada por nos emprestares o Zé Mário .No meu caso, acho que, em tempos, foi um empréstimo literal - espero tê-lo devolvido, se bem que há canções (deixa-me criar uma metáfora barata), que nunca se devolvem.As do Zé Mário pertencem a esse grupo.